A ideia de que Deus é rei e governa o seu povo, Israel, é central na Bíblia hebraica: deriva da noção de realeza divina característica das religiões do Oriente Próximo. Uma aprovação particular, representada pela unção profética, é necessária como garantia de aliança para estabelecer a casa de David (II Samuel, VII, 5-17). Daí resulta que a monarquia de David não suplanta a governação de Deus, que se exerce sobre todas as coisas, além de sobre Israel segundo um modelo tipicamente teocrático. Com os profetas torna-se ainda mais nítida a concepção de uma soberania escatológica, que se revelará plenamente no fim dos tempos (Isaías, LII, 7): nesse momento, Deus ditará, como soberano universal, a sua sentença, reinará a paz prometida e as esperanças do povo eleito realizar-se-ão. Esta ambivalência da noção de reino – espiritual e concreta – continua a existir no Judaísmo da época de Jesus, em que o termo refere-se tanto à realização da soberania divina (sobretudo no juízo final) como – e este é o caso dos textos apocalípticos de fundo dualista – ao lugar (o «reino») onde esta soberania se exercerá plenamente aqui em baixo. Na pregação de Jesus, o anúncio do Reino (que designa sempre a soberania de Deus) encontra a sua expressão mais eficaz através das parábolas: aquele é apresentado como algo de grandioso que já começou a existir, mas que deve ainda aperfeiçoar-se: tal como a semente ainda não se transformou em árvore, e a colheita não teve ainda lugar.
Notas complementares
Notas complementares
O Reino de Deus constitui um tema fundamental da esperança cristã: a expectativa de uma realidade escatológica diferente da realidade presente e terrestre. A fortuna desta noção está profundamente ligada à história da escatologia tanto individual como colectiva, e varia segundo prevaleçam ou reapareçam temáticas milenaristas e em função das diversas formas com o Cristianismo concebeu as relações entre a esfera religiosa e a esfera política.
Giovanni Filoramo, Origem e difusão do Cristianismo
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