sábado, 26 de novembro de 2011

Aforismos & desaforismos de Aparício

É tradição que o famoso pintor grego Apeles (IV séc. a. C.), tendo pintado um quadro que lhe agradava, o expôs em público, como era, parece, hábito seu. Muita gente desfilou a admirá-lo e a comentá-lo, até que apareceu ali um sapateiro que, não contente de criticar a feitura dos coturnos dos personagens («Eu cá teria feito muito melhor!» – e assim), desatou a apontar outros defeitos na obra. Apeles que, postado atrás do quadro, escutava os comentários, saiu do esconderijo e disse ao crítico:
   – ORA NÃO VÁ O SAPATEIRO ALÉM DA BOTA!
   É sabido que na Grécia os sapateiros eram em grande número, ao passo que os Apeles não chegavam a meia dúzia. De facto, havia só um. Apliquem agora el cuento aos dias de hoje, e digam-se depois se não há por aí multidões de sapateiros (a maioria!) a dar sentenças deliberativas e cominatórias aos raros Apeles que pensam e agem em nome de algo que está acima das botas!
[JRM, 8/2/1977]

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