quinta-feira, 17 de novembro de 2011

ANJOS ÀS JANELAS DO CÉU

Tenho pela Música de Parafita uma paixão mal correspondida. E como todos os amantes infelizes, quanto mais ela me dá com os pés, mais eu insisto na toleima.
Sim, porque só por amor ou toledo eu deixaria o aconchego da lareira para ir até Parafita em pleno Janeiro.
Pois foi o que aconteceu no pretérito dia 24.
Às doze em ponto, subia eu a rua em direcção à capela. Em sentido oposto, cantarolava um caudaloso rego de água, fonte de alegria e de fartura.
A missa estava atrasada. Aproveitei para visitar o forno.
Tempos houve em que a importância das cidades europeias se media pela grandeza das suas catedrais e a das aldeias barrosãs pela dos seus fornos do povo.
O de Parafita não envergonha ninguém. Pena estar botado ao abandono.
Ia a contar que a Música tocasse pelo menos um Cremos Deus ou um Salutaris Hostia. Mas os instrumentos, alguns deles de respeito pelo seu tamanho, assistiram à missa recostados às paredes do adro.
Ite, missa est, os músicos correram a eles e à formatura. E a um sinal do Maestro, irromperam rua abaixo num alegro de tanta força e beleza, que eu vi os anjos a bater palmas às janelas do céu.
Bento da Cruz, PROLEGÓMENOS – Crónicas de Barroso (p. 5)

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