domingo, 27 de novembro de 2011

DIÁRIO (XIII)

Coimbra, 27 de Novembro de 1979 – Retrospectiva de Picasso na televisão. Quadros, quadros e mais quadros. Tantos, que em dada altura já não era capaz de os distinguir, de objectivar a singularidade de cada um. Pareciam-me todos iguais. E comecei a ficar inquieto, de pé atrás. Não estaria diante de um grande logro? Aquela super-abundância, tão incomodamente próxima de uma produção em série, não ilustraria demasiado o próprio mito para ser sincera? Não seria o fruto de um triunfo fácil ou de uma ociosidade satisfeita?
Agarrados à lógica da nossa pequenez, esquecemo-nos de que o génio é por vezes assim: uma torrente que não tem mão em si, que não pode escolher caminho nem evitar o lodo que arrasta e lhe dá substância.

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