
quinta-feira, 30 de junho de 2011
Coruja

“Tablóides”
Junho de 1976
• Era uma vez um homem que tinha sete cabeças, mas nunca sabia ao certo o que pensava: porque cada cabeça pensava de sua diferente maneira.
1914 - Costa Gomes (Faleceu a 31 de Julho de 2001)

Bandeira de Portugal

quarta-feira, 29 de junho de 2011
Paulo de Tarso

Feriados portugueses
Feriado municipal em Póvoa de Varzim, Bombarral, Castro Verde, Évora, Montijo, São Pedro do Sul, Seixal, Sintra e Macedo de Cavaleiros - todos por conta da Festa de São Pedro e São Paulo.
“Tablóides”
29 de Junho de 1976
• Admitindo que haja entre nós os chamados «assassinos literários», esses indiscretos vigilantes da seara alheia, seria impossível aqui a existência viável de monstros ou «malditos» tais como Nerval, Edgar Poe, Lautréamont, Gide, Proust, Genet, Jouhandeau, Céline, Violette Leduc, Montherlant (que eu próprio critiquei, mas com motivo), a pobre Sarrazin, e mesmo um Cocteau. Se ele, até um Erskine Caldwell eles tentaram demolir, a quem se deve a consciencialização mundial da condição do negro norte-americano! (Que fizeram eles de parecido?) Aliás ele foi – ou será ainda? – o mais lido dos escritores ocidentais... na URSS!
• Depois de Victor Hugo, Baudelaire deve ter sido o poeta francês mais querido e popular em Portugal, talvez porque apelava para o nosso «feitio» rebelde, pessimista, algo sombrio e dado ao macabro. Eu teria preferido, mais modernamente, um Paul Valéry, mas a sua frieza de versejador ou versificador (versificateur, como ele mesmo se definiu – e não poeta – a um amigo) constrange-me e repele-me.
• Em certos dias visita-me a angústia – que nada tem de metafísica! – de saber que és a mesma de outrora e, no entanto, és outra; que eu sou o mesmo, e a que ponto mudei! E o mundo, sendo o mesmo, se transfigurou até ficar irreconhecível. E dizer que é imperativo persistir neste jogo de ilusão, de acreditar que tudo coexiste e permanece, quando tudo se transforma e volve em pó e nada!
terça-feira, 28 de junho de 2011
1927 - Egas Moniz realiza, com êxito, a primeira angiografia num paciente vivo
A 28 de Junho de 1927, o médico português Egas Moniz realiza a primeira angiografia cerebral bem sucedida num paciente vivo. A angiografia consiste na radiografia dos vasos sanguíneos tornados visíveis pela injecção de substâncias opacas aos raios X.
segunda-feira, 27 de junho de 2011
Muammar al-Gaddafi

Drama
Todo de carne e osso,
Como posso
Transfigurar-me?
A vara de condão que me levanta
Ergue o peso dum homem.
Sou maciço, animal.
Mas no céu, onde vejo
Formas como as da terra,
O aceno divino não sossega:
- Vem, alada semente doutra vida!
E não sei que metade ressentida
Me renega.
Como posso
Transfigurar-me?
A vara de condão que me levanta
Ergue o peso dum homem.
Sou maciço, animal.
Mas no céu, onde vejo
Formas como as da terra,
O aceno divino não sossega:
- Vem, alada semente doutra vida!
E não sei que metade ressentida
Me renega.
domingo, 26 de junho de 2011
REMÉDIOS PARA A GRIPE
Há por aí um ditado que diz: quem anda à chuva molha-se. Eu andei à chuva, gripei-me. Uma gripe de má casta, que ia atirando comigo à sepultura. Que era uma virose. Sei lá o que era. O que sei é que tinha as mucosas congestionadas, os brônquios encharcados, as orelhas transparentes, o nariz vermelhusco, à força de tanto o espremer. Uma tosse que mais parecia esgana de cão, salvo seja. Noites inteiras sem dormir. Um mal-estar que nem sei que mais lhes diga.
Familiares e amigos começaram a visitar-me. Cada qual com seu palpite. Toma isto, toma aquilo. Principalmente chás. Chá de cidreira, chá de laranja, chá de limão, chá de figos, chá de cebola, chá de salgueiro, chá de carqueja... chá de arestas, chá de moca... Fiquei com o fígado numa lástima. Nem quero que me lembre.
Mas lembrei-me. De quando era garoto e toda a gente se curava com um suadoiro. À mais pequena, ou grande, camoeca: gripe, constipação, anginas, coqueluche, trasorelho, sarampo, varicela, antraz, cefaleia: a receita era sempre a mesma: suadoiro.
Metia-se o desgraçado na cama e vá de deitar-lhe para riba mantelas, cobertores, colchas, tudo de lã de ovelha, tecido no tear caseiro. Apenas um respiráculo para o nariz. O resto, tudo atabafado, desde a ponta dos pés ao cocuruto da cabeça.
Breve o enfermo destilava por todos os poros. Ali, durante horas, até deitar os maus humores fora. Depois era só uma fricção com uma toalha de estopa ou linho e estava são como um pero.
Ainda pedi à patroa que me fizesse um suadoiro. Ela riu-se. Que tivesse juízo.
Juízo tinha eu. O que não tinha era saúde.
Passei horas em frente ao espelho, à espera de que o sangue me voltasse às orelhas. E as orelhas cada vez mais brancas. «Desta sempre vou...» E comecei a ter pena. Sabem de quê? De já não ouvir cantar o cuco...
Tenho por hábito aguentar o Inverno na esperança de ouvir cantar o cuco. Quando ele começa a tocar a flauta, a natureza desperta: árvores, flores, pássaros, bichos, gentes.
O cuco é o arauto do sol, da Primavera, da Páscoa, da ressurreição, da alegria. Quando o ouço cantar pela primeira vez, algo dentro de mim refloresce.
No Porto, não se ouve cantar o cuco. Por isso isto é uma terra triste.
Vou fugir para Barroso.
Lá o cuco flauteia de manhã à noite.
Muito gosto eu de o ouvir.
Bento da Cruz, PROLEGÓMENOS – Crónicas de Barroso (p. 119 e s.)
1938 - Maria Velho da Costa

sábado, 25 de junho de 2011
“Tablóides”
25 de Junho de 1976
• Eu acabara, com o quinto ano do liceu, a minha aprendiza gero do francês. Era nas férias de 1917, tinha eu portanto quinze anos. Ano terrível foi esse, de carências, fome, desordens, assaltos, derrotas, epidemias. Meu irmão voltou de França, do CEP esmagado a 9 de Abril, para vir morrer nos meus braços a 29 de Novembro, num quarto lúgubre do Hospital de São José, poucos dias antes do assassínio de Sidónio Pais. Davam as quatro horas da tarde no sino de um relógio, talvez o da capela, quando ele soltou o último suspiro. Corri desvairado a chamar um enfermeiro que para sempre veio fechar-lhe aqueles olhos negros, nunca saciados de amar a vida. Tinha ele vinte e três anos. Lembro-me de que, sacudindo as grades da cama, cego de lágrimas, eu tive apenas este brado de horror, protesto e pena: «Injustiça! Injustiça!» (Quantas outras eu presenciara já, e teria de presenciar ainda, impotente para as impedir!)
Duvidoso do meu «aproveitamento» em francês, resolvi proceder a um severo auto-exame. Tinha comprado num alfarrabista um exemplar brochado da Thaïs, de Anatole France, na sóbria edição Calmann-Levy, 1902, que ainda ali tenho entre alguns livros estimados. Abri-o: «En ce temps-là le désert était peuplé d'anachorètes»... Apaixonou-me logo.
Resolvi lê-lo todo, palavra por palavra, sentado na cadeira de braços, na varanda donde observava os, mais tarde, pátios e personagens da «Dona Genciana». Lendo, marcava a lápis os vocábulos ignorados – eram numerosos! – e procurava-os no Dicionário de Fonseca – outra relíquia que se sumiu na voragem familiar. Acabada a primeira leitura, voltei ao começo, e de novo procurei no grosso dicionário aqueles que esquecera, dos vocábulos marcados. Eram ainda muitos. Finda essa leitura – quantas tardes de sol durara isto? – retornei ao começo e reli uma vez mais todo o romance. Tinha apagado todas as marcas. Desta vez não tive de procurar nem um só vocábulo. Aprendera-os todos, Assim fosse hoje... Concluí que sabia francês e concedi-me generosa aprovação. Ao jantar desse dia bebi um segundo copo de vinho.
Não o releio há muitíssimos anos. Mas ainda recordo, deliciado, as suas palavras finais. Quando o monge Paphnuce (Pafúncio em português, que horror!) assiste à fuga das monjas espavoridas com a aparência do amante e pecador:
«Un vampire! Un vampire!
Il était devenu si hideux qu’en passant la main sur son visage, il senti sa laideur.»
Quem o escreveria hoje melhor? E quantos teriam hoje a paciência de o reler como eu fiz? Aprender francês...
25 de Junho: Bento de Jesus Caraça

Moçambique
Neste dia… 1975 - Moçambique obtém sua independência em relação a Portugal.
sexta-feira, 24 de junho de 2011
Noite de S. João
Letra e música de FRANCISCO CUNHA
Ó noite de S. João
Com que saudade
Tu nos fazes relembrar
Os tempos que já lá vão
Como é triste,
como é triste recordar.
Ó noite de euforia
Em que se canta
Desde a noite até ao dia
Enchendo o coração
De trovas lindas
em louvor de S. João.
Dai-nos cá o braço
Vamos raparigas
Festejar o Santo
Com nossas cantigas
Vamos já à fonte
A pedra atirar
Tradição que o Monte
Tem que respeitar.
Quando Ele passar
Erguido no seu andor
Eu vou suplicar
Numa prece de joelhos
Que sejas só meu
Me tenhas amor
E pelo milagre
dar-lhe-ei cravos vermelhos.
Deus

Os Elementos: Terra, Ar, Água e Fogo.
Batalha de S. Mamede

Dia de São João Batista

quinta-feira, 23 de junho de 2011
“Tablóides”
23 de Junho de 1976
• Grande espanto que ele escreva aquela prosa de açorda lamacenta, se bebe o leite de tão flácidos seios!
• Alguém disse ao Almada: «Se, cada vez que lhe passar pelas mãos uma nota de cem escudos, você lhe cortar um pedacinho, ao fim de algum tempo, juntando e colocando esses pedacinhos, você pode reconstruir uma nota de cem. Então leva-a ao Banco de Portugal, e eles dão-lhe em troca uma nota nova.» Almada, depois de urna breve reflexão: «Não. Se isso fosse possível, o José Pacheco já tinha feito.» (Folclore almadense!)
1928 - Nascimento de Armando Cortez (Faleceu a 11 de Abril de 2002)

D. Miguel I de Portugal

quarta-feira, 22 de junho de 2011
A ARCA DE NOÉ E O BURRO
Nestes últimos dias, muito me tenho lembrado do patriarca Noé e da sua famosa Arca. É que isto parece mesmo um segundo Dilúvio Universal.
Segundo a Bíblia, aquando do primeiro, choveu durante quarenta dias e quarenta noites.
Neste fim dum século e princípio doutro, parece que chove há uma eternidade.
Por isso eu me tenho lembrado de Noé.
Mas não é só por causa da sua famosa Arca que eu me tenho lembrado dele.
É também porque, e ainda segundo a Bíblia, Noé foi o primeiro homem do mundo a cultivar e a beber vinho, o tal que (e invoco de novo o livro Sagrado) cor homini laetificat.
Alegra o coração do homem e ajuda a passar os dias de chuva à lareira, entre dois dedos de conversa e outros dois de maduro tinto, bebido directamente da pota de barro preto, depois de lhe ter quebrado a friúra ao calor dos tições.
A Bíblia não o diz expressamente, mas é de supor que Noé matasse o seu porquito.
Eu, por acaso, matei. E aprecio sobremaneira uma chouriça embrulhada numa folha de couve e metida entre as brasas.
É uma espécie de reacção em cadeia. A chouriça puxa pelo vinho, o vinho solta a língua.
Ora foi precisamente num desses momentos de língua mais expedita que eu, decerto por não ter mais nada que dizer, evoquei o caso do burro que traiu o dono.
Passou-se a coisa desta maneira.
Uma noite, era eu garoto, levantei-me da cama para ir ao quarto de banho, que é como quem diz, ao pátio. Nisto, ouço zurrar um burro na eira.
Acordei o meu pai: «Está um burro na eira...» «Na eira?» «Sim.» «Estás maluquinho...» «Ouça.» Lá estava outra vez o burro a zurrar.
Meu pai acordou o meu tio: «Compadre?» «Diga.» «Está um burro na eira. Que lhe parece?» «Algum burro vadio.» «E se fôssemos ver?» «Vamos».
Lá fomos, com as cautelas devidas, a contar com um burro vadio.
Mas o raio do burro, por sinal um lázaro que envergonharia um cigano, estava albardado e preso atrás do palheiro.
«Antolhou-se-me ver uma luz no telhão..." – segredei.
«Ficai aí» – e o meu tio, pistola em riste, avançou, pé ante pé, cosido com a parede.
Que havia de ser? Um vulgar ratoneiro a ensacar batatas à luz dum foque.
Meu irmão Manuel, que me escutava e se ria, comentou:
– Esse não era dos lados de Vilar de Perdizes.
– Porquê?
– Se o fosse, sabia como é que se faz para um burro não zurrar.
– Então como é?
– Prende-se-lhe uma pedra ao rabo. Um burro, não levantando o rabo, não zurra.
As coisas que a gente aprende à lareira, em dias de chuva, entre dois dedos de vinho e outros dois de conversa...
Miguel Torga – 22 de Junho de 1979
Lisboa, 22 de Junho de 1979 – O poder. É engraçado conhecer-lhe os bastidores! São doirados e alcatifados. E têm muitos reposteiros...
DIÁRIO (XIII), p. 97
terça-feira, 21 de junho de 2011
Machado de Assis
Joaquim Maria Machado de Assis (21 de junho de 1839 — 29 de setembro de 1908) foi um escritor brasileiro, amplamente considerado como o maior nome da literatura nacional. Escreveu em praticamente todos os gêneros literários, sendo poeta, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista, e crítico literário. Testemunhou a mudança política no país quando a República substituiu o Império e foi um grande comentador e relator dos eventos político-sociais de sua época.
Nasceu no Morro do Livramento, Rio de Janeiro, de família pobre. Interessado pela boemia e pela corte, lutou para subir socialmente abastecendo-se de superioridade intelectual. Em sua maturidade, ajudou a fundar e foi o primeiro presidente unânime da Academia Brasileira de Letras. Sua extensa obra constitui-se de 9 romances e peças teatrais, 200 contos, 5 coletâneas de poemas e sonetos, e mais de 600 crônicas. É considerado o introdutor do Realismo no Brasil, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Ao lado de outros livros como Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Aires, esta obra é ortodoxamente vista como pertencente a sua segunda fase, em que nota-se traços de pessimismo e ironia, embora não haja rompimento de resíduos românticos. Dessa fase, os críticos destacam que suas melhores obras são as da Trilogia Realista. Outros livros, como Ressurreição, A Mão e a Luva, Helena e Iaiá Garcia, herdam características do Romantismo. (leia mais...)
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Matilde Rosa Araújo

Abelhas

“Tablóides”
20 de Junho de 1976
• «Ó Matias, você ainda é ateu?» «Pois claro que sou! De sempre. Por quem me toma você?» Demos alguns passos e ele, depois de uma pausa: «Bom, quando me vejo atrapalhado com um negócio falhado, uma doença grave, ou o receio de morrer, então desato a rezar como um condenado. Mas a um deus anónimo, desconhecido, entende? Um deus só cá para os meus problemas!»
domingo, 19 de junho de 2011
Chico Buarque

A FEIRA DO FUMEIRO
Se me falam em feira em Montalegre, dou-me logo por convidado.
Este fraquinho pelas feiras vem-me da infância. Quando jovem pastor de cabras, cheguei a deixar a rês sozinha no monte e correr à Vila, a dar uma vista de olhos à feira. Como tudo aquilo era variegado, colorido, alegre.
Para nós, garotos das aldeias, a feira de Montalegre era o circo, a alegria, a festa.
Noutros tempos, as feiras mais concorridas eram a dos Santos e a do Prémio. Agora é a do Fumeiro.
Fui lá no sábado, 19 do corrente.
Eu a estacionar o carro e a multidão a correr para oeste. Indaguei o que era.
– Uma chega.
Corri também, à procura dum lugar na plateia, ou, melhor dizendo, dum buraquinho na paliçada humana. Mas a turba era compacta.
Por fim, em bicos de pés, muito esticado, lá consegui espreitar para o recinto. Dois bois de raça barrosã, boa presença e peso, olhavam um para o outro com uns ares de muito enfadados.
– Já lutaram? – inquiri dum sujeito à minha esquerda.
– Se quer que lhe diga, não sei. Estou aqui há dez minutos e ainda não percebi nada.
Afinal estavam ainda na escolha do campo.
Os guardas de um dos bois passavam-lhe uma vaca pelas ventas, como a dizer-lhe:
– Se a queres, luta por ela.
Mas o boi parecia muito desinteressado. «Mau! – disse para comigo – Nem vão pegar»
Afinal pegaram e duro. Boizinhos duma cana. Uma chega das antigas.
Com uma diferença. Antigamente, os Barrosões assistiam a uma chega como quem assiste a um acto religioso. No silêncio e no respeito de quem está perante uma divindade.
Agora, não. Gritam, riem, dizem chocarrices de mau gosto. Uma profanação.
Uns bois que se portam com tanta dignidade e valentia como os que turraram num terreno vedado anexo ao pavilhão da Feira do Fumeiro, mereciam mais respeito.
Ia a afastar-me dali revoltado, vem de lá um indivíduo de braços abertos:
– Ó Zé? Ó grande amigo!
– Grande amigo, poderei ser. Zé é que eu não sou.
– Não me digas que não és o Zé da Lixa?
– Ora vai lixar outro.
E, voltando costas, mal-humorado, refugiei-me no pavilhão da feira.
Logo à entrada, caí nos braços dum velho e verdadeiro amigo. Fomos dar uma volta ao recinto. Mais amigos, mais abraços. Muitas caras conhecidas, umas indígenas, outras forasteiras. Música, fixa e ambulante, exclamações, risos, vozes.
Nos escaparates, uma farturinha. Carnes fumadas, e outros produtos regionais, para todos os olhos, gostos e bolsas.
O grupo de amigos foi engordando.
– Vamos ali a uma das tasquinhas provar a chouriça e beber um copo – propôs um deles.
Outrora, os Barrosões que iam à feira, levavam a chouriça para fazer lastro ao vinho. Lembra-me sempre aquele casal vizinho e amigo, na altura jovem, hoje velho como eu, que não falhava uma feira.
Um dia ele saiu primeiro, para deixar as vacas no pasto. Ia já no meio da rua, a uns cem metros, grita-lhe a cara-metade:
– Ou Joaquim? Levas a carteira?
– Levo. Traz a chouriça!
Para a do Fumeiro, basta levar a carteira. Chouriças, há-as lá e com fartura.
Bento da Cruz, PROLEGÓMENOS – Crónicas de Barroso (p. 114 e ss.)
Subscrever:
Mensagens (Atom)