terça-feira, 1 de janeiro de 2013
Coimbra, 1 de Janeiro de 1981
– São duas da manhã. Acabei o ano velho de caneta
na mão e entro no novo da mesma maneira. O alvoroço festivo lá de fora não
interrompe a escrita. Vai-a pontuando apenas de realidade. Sempre gostei de
sentir o compasso do concreto a pautar-me a grafia. Fico mais seguro no mundo e
mais lembrado de que a prosa e os versos são para ser lidos por gente de carne
e osso, tão carente de comunicação como eu. Sei que a literatura tem vertentes
de solipsismo que levam directamente ao inautêntico e ao ilegível. Por isso,
mesmo nas horas mais egotistas, nunca isolei a alma em torres de marfim. Mas é
bom que a pressão das circunstâncias me ajude nessa perseverança. Sem
referências palpáveis, o homem é um traidor nato à sua própria verdade. E
quantas vezes é pela labilidade do verbo que a traição começa…
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