O Redol enviou-me os Avieiros, reescritos
recentemente com carinho de querer salvar do naufrágio um sonho velho.
Desfolhei-o e, mais uma vez, senti esta verdade dominante na obra de Redol: o
amor pelo povo-povo de pele verdadeira e suor real, bem diferente do que nós inventamos
para os nossos livros pequeno-burgueses.
Basta ler-lhe
uma página para se perceber logo que conviveu intimamente com os camponeses,
não se enojou com o cheiro a carne de trabalho das carruagens de 3.ª classe,
bebeu pelos copos das tabernas da malta, comeu do mesmo alguidar comum dos
ganhões.
Isto é: Redol
conhece-os em profundidade suficiente para poder dá-los como ninguém em
superfície. Artisticamente falha, claro. Muitas vezes. (Não tem o sortilégio
nem o talento literário de um Carlos de Oliveira
ou de um Manuel
da Fonseca.) E ninguém lhe poupa as
fraquezas – como se provou quando lhe negaram o prémio Camilo Castelo Branco
ao seu notabilíssimo romance Barranco de Cegos.
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