sexta-feira, 20 de maio de 2011

Cadernos de Lanzarote (Diário de 1993)

20 de Maio
O «Sim» da Dinamarca encontrou-me desinteressado. Não o recebi como uma derrota, e a vitória, na verdade, não sei a quem pertence nem para que vai servir. Quando os Europeus assistem de braços cruzados, impotentes ou indiferentes, à carnificina balcânica, que significado pode ter este «Sim»? E o «Não», que significaria, se tivesse sido esse o resultado? A culta Europa, a civilizada e democrática Europa tem, nos seus tecidos profundos, um tumor que pode ser mortal, e gasta o tempo em trabalhos de cosmética, de maquilhagem, como uma velha cortesã que ainda alimentasse a esperança de alguém a pôr por conta.
Notícias de José Luís Judas: um fax da Televisão, assinado por Ricardo Nogueira, que diz acreditar que a RTP tomará posição quanto ao Príncipe Perfeito no princípio da próxima semana. Veremos se e veremos qual. Interessante, mais do que isto, que já vai sendo caldo requentado, é o modo como Judas se refere à inefável Zita Seabra: «Como já deves saber a nossa ex-camarada Zita Seabra é a nova comissária para o audiovisual.» Diz «ex-camarada» e esquece-se de que ele também o é. Lembra-me a minha mãe, que chamava velhotas às amigas e conhecidas que tinham a idade dela, os mesmos setenta ou oitenta anos. Há razões que a razão não conhece, e se eu entendia exactamente o que minha mãe queria dizer na sua, como não entenderia agora o que Judas diz?

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