27 - Abril (quinta). Já um dia o anotei. Tenho às vezes nos sonhos ideias que me parecem brilhantes. Acontece-me mesmo ter acordado no meio da noite e anotá-las para as utilizar. E quando finalmente bem acordado de vez, verifico com surpresa que são ideias pífias. Hoje sonhei que cavaqueava como Casais Monteiro sobre o Pessoa. E a certa altura surgiu-me no próprio sonho, durante a conversa, uma ideia que me pareceu brilhante e adiantei-a ao Casais. E a ideia era que Pessoa tinha harmonizado a futilidade da poesia barroca com a profundeza de Antero. Acordei e lentamente, à medida que ia tomando cada vez mais posse de mim, a ideia começou a parecer-me discutível, confusa e por fim inútil. Mas como mesmo agora a julgo aproveitável para quem for mais inteligente do que eu ou mais necessitado de ideias sobre Pessoa sobre quem já começa a haver escassez delas, aqui a deixo e dela me desfaço, sacudindo as mãos.
conta-corrente – nova série I (1989)
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