Vasco Pulido Valente - 18-02-2012
O Partido Socialista não tem nada para dizer a ninguém e, para espanto dos poucos portugueses que se continuam a interessar por ele, resolveu agora ir buscar inspiração a Washington, mais precisamente a Obama. Primeiro foi o dr. Mário Soares, que fala da reeleição de Obama como quem fala da salvação do mundo. Depois, veio uma apologia ao homem de Francisco Assis, que parecia tirada de um livro de santinhos. Obviamente, falta a França ao PS. Os nossos políticos, como, até há pouco tempo, os nossos literatos, sobretudo se eram de esquerda, viviam da França. Soares, nas memórias, confessa que se educou num velho jornal chamado Observateur, que a seguir se tornou no France-Observateur e a seguir no Nouvel Observateur, que dura ainda com o mesmo arcaico director.
Esta preferência pela França não custa a perceber. Durante a ditadura, os jornais portugueses não existiam e a oposição não lia inglês. Mas, fora essas considerações práticas, que pesavam bastante, o minúsculo universo da esquerda indígena que se afastara do PC via no socialismo francês - já nessa altura fraco, dividido e confuso - um reflexo de si próprio e dos seus tormentos: como se distinguir do PC sem, pouco a pouco, deslizar para o anticomunismo do regime? Como colaborar com ele sem ser absorvido (e usado) por organizações putativamente "unitárias"? E como se afirmar contra a sua esmagadora força e o mito, quase intacto, da URSS? Para muita gente, as respostas chegaram de França. Mas não se compreende que espécie de esperança ou de ideias chegam hoje de Obama.
Obama não fez grande coisa, excepto evidentemente conseguir ser eleito. Por causa do Congresso, a reforma da saúde acabou por sair truncada e em parte inútil. A política económica falhou ou, se quiserem, como se queixou Ben Bernanke, teve, ao contrário do que se esperava, um efeito "frustrante" e "lento". A América lá retirou as tropas do Iraque, mas para as meter no Afeganistão e, o que é pior, no Paquistão. E Guantánamo funciona, imperturbável como sempre. Em balanço, não se compreende o amor do PS por Obama, excepto pela balbúrdia em que a UE se tornou e pela sua iminente desagregação. O antiamericanismo da esquerda portuguesa e francesa começa a desaparecer à medida que morrem os sonhos da "terceira via" e da utopia do "modelo europeu". No meio do desastre, não ficou Hollande. Ficou Obama.
Esta preferência pela França não custa a perceber. Durante a ditadura, os jornais portugueses não existiam e a oposição não lia inglês. Mas, fora essas considerações práticas, que pesavam bastante, o minúsculo universo da esquerda indígena que se afastara do PC via no socialismo francês - já nessa altura fraco, dividido e confuso - um reflexo de si próprio e dos seus tormentos: como se distinguir do PC sem, pouco a pouco, deslizar para o anticomunismo do regime? Como colaborar com ele sem ser absorvido (e usado) por organizações putativamente "unitárias"? E como se afirmar contra a sua esmagadora força e o mito, quase intacto, da URSS? Para muita gente, as respostas chegaram de França. Mas não se compreende que espécie de esperança ou de ideias chegam hoje de Obama.
Obama não fez grande coisa, excepto evidentemente conseguir ser eleito. Por causa do Congresso, a reforma da saúde acabou por sair truncada e em parte inútil. A política económica falhou ou, se quiserem, como se queixou Ben Bernanke, teve, ao contrário do que se esperava, um efeito "frustrante" e "lento". A América lá retirou as tropas do Iraque, mas para as meter no Afeganistão e, o que é pior, no Paquistão. E Guantánamo funciona, imperturbável como sempre. Em balanço, não se compreende o amor do PS por Obama, excepto pela balbúrdia em que a UE se tornou e pela sua iminente desagregação. O antiamericanismo da esquerda portuguesa e francesa começa a desaparecer à medida que morrem os sonhos da "terceira via" e da utopia do "modelo europeu". No meio do desastre, não ficou Hollande. Ficou Obama.
Sem comentários:
Enviar um comentário