sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

23 de Dezembro

Esta virgem de trinta anos, que abafara todos os instintos e resistira a todas as exigências e tentações da carne, parou um dia a admirar um robusto trabalhador de vinte e poucos anos, rosto róseo-tostado e anelado cabelo de ouro, que carregava sem esforço aparente pesadas sacas de cimento. Ele sorriu-lhe à passagem e ela, vendo nele o homem a um tempo idealmente forte e lendariamente belo, sentiu desabrochar-lhe no seio a flor do desejo e da maternidade. Resolveu então pertencer-lhe, e fê-lo seu amante. Meses depois percebeu-se grávida. Tendo cumprido, segundo pensava, a sua missão de mulher, rompeu com o amante lamentoso. O filho nasceu em tempo, um reluzente bebé de mais de três quilos, que era o vivo retrato do progenitor. Não tardou porém que nele se manifestassem os sintomas de hereditária, degenerativa e incurável doença que, aos poucos anos de idade, o fez entrar para o resto dos seus dias num asilo de anormais.
(Outra versão do caso e, como este, sem pretensões de «moralidade», tem como herói um negro, belo como uma estátua: e com idêntico resultado. Não me resolvi a adoptá-la.) [JRM, 1/3/1977]

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