segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Tablóides…

Lendo algures uma inteligente selecção de frases extraídas da obra de Eça de Queirós, compreendi de repente até que ponto este incontestável génio contribuiu para o empulhamento do nosso carácter. A sua linguagem tinha por vezes subtilezas que se podem dizer afadistadas-pulhas. Era decerto assim que ele visionava a nação que lhe foi berço. Lembre-se, não mais, a cena da Ilustre Casa em que o protagonista, ao passear no seu jardim, ouve o seguinte diálogo entre a virtuosa mana e o cacique local que trabalha para o eleger deputado: (Ele) «Sim, sim, meu amor!» (Ela) «Não, não, que loucura!» Não se poderia achar expressão mais pandilha, como símbolo ou epítome de uma cultura. Tanto mais que o «ilustre» Ramires, em vez de entrar no caramanchão e partir a cara ao bandalho, continuou o seu passeio, embora arreliado. E era deste cavalheiro que o Eça esperava fazer um civilizador em Angola! (Junho 77)
     P.S.: Não me arrependo nada de ter sido o primeiro escritor da minha geração a comentar azedamente a grande personalidade literária! (em O Diabo, 1940) 

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