Hoje,
terceiro domingo de Setembro, fui à missa a Meaus
dos Mixtos, aldeia galega hoje pouco menos que deserta, mas ainda em meados do
século passado um centro comercial florescente e muito concorrido. «Vinham
gentes de Zamora
abastecer-se em Meaus! –, gostam de sublinhar os poucos residentes que ainda
por lá resistem. E apontam a dedo as belas casas de cantaria, hoje fechadas,
outrora grandes comércios, desde uma agência bancária à farmácia.
Comecei
a familiarizar-me com Meaus na imprensa montalegrense da Primeira República, a
propósito da tomadia (por contrabando) do administrador do concelho, na altura
a autoridade máxima cá dos sítios, por um guarda-fiscal do posto de Padroso.
Procurem no jornal “O Combate» que vale a pena.
A
missa era às onze. Cheguei sobre a hora e corri para a igreja.
É um
templo pequeno. Mesmo assim, não estava cheio. Uns vinte fiéis, se tanto, e
todos maiores de sessenta anos. Notei que todos me olhavam e sorriam com
simpatia, satisfeitos e agradecidos por eu ir compartilhar com eles aquela
confraternização dominical.
Acompanhei-os
o melhor que pude nos sinais exteriores, mas, quanto a orações, não abri a
boca. Primeiro por não estar muito seguro da cartilha. Segundo porque, rezando
eles em galego, tive medo de destoar.
Acabada
a missa, fui à sacristia pedir a bênção ao senhor abade, um rapaz novo e
simpático, e aproveitei para uma vista de olhos pelos santos.
Novidade,
apenas um busto, cabeça ou retrato dum Santo Cristo de terracota numa peanha de
madeira embutida na parede, entre o púlpito e o arco-cruzeiro, coisa recente,
assim me pareceu. Todos os outros, uns nove, se não errei na conta, num tríptico
de talha antiga, atrás do altar. Identifiquei S. Brás, S. Bento, S. Domingos,
duas Nossas Senhoras, S. António de Lisboa. Gostei de ver um santo português em
terra estranha. «Olá, patrício?», cumprimentei, no silêncio do meu coração. E
olhando para ele, assim de pé rosado, túnica pelo artelho, cintura quebrada
pelo cordão, rostinho mimoso, Menino ao colo, com o seu quê de feminino, lembrei-me
duma história de galegos
que eu ouvia contar quando garoto. Perguntava um deles:
–
Mira? Santo António é santo ou santa?
–
Num che sei dicir se Santo António é santo ou santa. O que che sei
dicir é que Santo António é madre de Nossa Senhora.
Bento
da Cruz, PROLEGÓMENOS II – Crónicas
de Barroso (p. 107 e s.)
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