quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

MEAUS DOS MIXTOS

Hoje, terceiro domingo de Setembro, fui à missa a Meaus dos Mixtos, aldeia galega hoje pouco menos que deserta, mas ainda em meados do século passado um centro comercial florescente e muito concorrido. «Vinham gentes de Zamora abastecer-se em Meaus! –, gostam de sublinhar os poucos residentes que ainda por lá resistem. E apontam a dedo as belas casas de cantaria, hoje fechadas, outrora grandes comércios, desde uma agência bancária à farmácia.
Comecei a familiarizar-me com Meaus na imprensa montalegrense da Primeira República, a propósito da tomadia (por contrabando) do administrador do concelho, na altura a autoridade máxima cá dos sítios, por um guarda-fiscal do posto de Padroso. Procurem no jornal “O Combate» que vale a pena.
A missa era às onze. Cheguei sobre a hora e corri para a igreja.
É um templo pequeno. Mesmo assim, não estava cheio. Uns vinte fiéis, se tanto, e todos maiores de sessenta anos. Notei que todos me olhavam e sorriam com simpatia, satisfeitos e agradecidos por eu ir compartilhar com eles aquela confraternização dominical.
Acompanhei-os o melhor que pude nos sinais exteriores, mas, quanto a orações, não abri a boca. Primeiro por não estar muito seguro da cartilha. Segundo porque, rezando eles em galego, tive medo de destoar.
Acabada a missa, fui à sacristia pedir a bênção ao senhor abade, um rapaz novo e simpático, e aproveitei para uma vista de olhos pelos santos.
Novidade, apenas um busto, cabeça ou retrato dum Santo Cristo de terracota numa peanha de madeira embutida na parede, entre o púlpito e o arco-cruzeiro, coisa recente, assim me pareceu. Todos os outros, uns nove, se não errei na conta, num tríptico de talha antiga, atrás do altar. Identifiquei S. Brás, S. Bento, S. Domingos, duas Nossas Senhoras, S. António de Lisboa. Gostei de ver um santo português em terra estranha. «Olá, patrício?», cumprimentei, no silêncio do meu coração. E olhando para ele, assim de pé rosado, túnica pelo artelho, cintura quebrada pelo cordão, rostinho mimoso, Menino ao colo, com o seu quê de feminino, lembrei-me duma história de galegos que eu ouvia contar quando garoto. Perguntava um deles:
– Mira? Santo António é santo ou santa?
– Num che sei dicir se Santo António é santo ou santa. O que che sei dicir é que Santo António é madre de Nossa Senhora.
Bento da Cruz, PROLEGÓMENOS II – Crónicas de Barroso (p. 107 e s.)

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