sábado, 24 de agosto de 2013

TARDE DE MAIS...

Quando chegaste enfim, para te ver
Abriu-se a noite em mágico luar;
E para o som de teus passos conhecer
Pôs-se o silêncio, em volta, a escutar...

Chegaste, enfim! Milagre de endoidar!
Viu-se nessa hora o que não pode ser:
Em plena noite, a noite iluminar
E as pedras do caminho florescer!

Beijando a areia de oiro dos desertos
Procurara-te em vão! Braços abertos,
Pés nus, olhos a rir, a boca em flor!

E há cem anos que eu era nova e linda!...
E a minha boca morta grita ainda:
Por que chegaste tarde, ó meu Amor?!...


FLORBELA ESPANCA,
in LIVRO DE SOROR SAUDADE (1923), in SONETOS (Ediclube, 1995)
Partilha de Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen

Sem comentários:

Enviar um comentário