sábado, 17 de agosto de 2013

«O POETA É UMA ÁRVORE»

Aquele que pediu «Quando eu morrer / deixai a varanda aberta» foi assassinado por pistoleiros franquistas há 75 anos, a 17 de Agosto de 1936, exactamente um mês após a rebelião fascista contra a República que, com a cumplicidade activa da Igreja – «Benditos sejam os canhões», a proclamação do primaz de Madrid continua a ser uma das mais graves injúrias contra os Evangelhos alguma vez proferida por um bispo católico afogou Espanha num mar de sangue e ignomínia.
Federico Garcia Lorca tinha regressado a Granada poucos dias antes. Os esquadrões da morte andavam pelas ruas e procurou refúgio em casa do poeta Luis Rosales, falangista e seu amigo. Foi aí que, no dia 16, militantes da Falange o prenderam. Nessa mesma noite foi levado para os campos de Viznar e, às 4 da madrugada, assassinado a tiro juntamente com um professor primário e dois bandarilheiros anarquistas.
A sua morte («De la cueva salen / largos sollozos») continua envolta em mistério. Não lhe eram conhecidas posições políticas, além de se assumir como republicano e de um dia ter dito: «Estou e estarei sempre do lado dos que têm fome». E, crime maior ainda para os seus algozes, era homossexual.
«Aqui fuzila-se como se desbastam árvores», escreveu Saint-Exupéry sobre a Guerra Civil. Lorca foi só mais uma árvore, frondosa e frágil: «O meu coração está aqui (...) / funde o teu ceptro nele, Senhor. / É um fruto / demasiado outonal / e apodreceu».


M. A. Pina JN, 17/08/2011

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