Aquele que pediu «Quando eu morrer / deixai a varanda aberta» foi assassinado por pistoleiros franquistas há 75 anos, a 17 de Agosto de 1936, exactamente um mês após a rebelião fascista contra a República que, com a
cumplicidade activa da Igreja – «Benditos sejam os canhões», a proclamação do
primaz de Madrid continua a ser uma das mais graves injúrias contra os Evangelhos alguma vez
proferida por um bispo católico – afogou Espanha num mar de sangue e ignomínia.
Federico Garcia Lorca tinha regressado a Granada
poucos dias antes. Os esquadrões da morte andavam pelas ruas e procurou refúgio em casa do poeta Luis Rosales, falangista e seu amigo. Foi aí que, no dia 16, militantes da Falange o
prenderam. Nessa mesma noite foi levado para os campos de Viznar e, às
4 da madrugada, assassinado a tiro juntamente com um
professor primário e dois bandarilheiros anarquistas.
A sua
morte («De la cueva salen / largos sollozos») continua envolta em mistério. Não lhe eram conhecidas posições políticas, além de se assumir como republicano e de um dia ter
dito: «Estou e estarei sempre do lado
dos que têm fome». E, crime maior ainda para os seus algozes, era homossexual.
«Aqui fuzila-se como se desbastam
árvores», escreveu Saint-Exupéry sobre a Guerra Civil. Lorca foi só mais uma árvore, frondosa e frágil: «O meu coração está aqui (...) / funde o
teu ceptro nele, Senhor. / É um fruto / demasiado outonal / e apodreceu».
M. A. Pina – JN, 17/08/2011
Sem comentários:
Enviar um comentário