Atraído por recordações da infância, vim passar o mês de Junho à
aldeia. Queria reviver outros tempos, outros Junhos.
Os Santos Populares, por exemplo.
Santo António, dia em que, em Peireses, se deitava a rês à vezeira.
Lembro-me da primeira vez em que
fui com a vezeira e mais o Avô Barbado.
As mulheres foram-nos impontar até para lá das terras de
cultivo. Depois era o baldio a perder de vista.
Aquilo não dava trabalho nenhum. Era só vigiar o lobo.
Mas o lobo raramente aparecia.
Ao virar para Cotas, ali onde hoje está a Aldeia Nova,
havia uma tapada solitária dum indivíduo de Gralhós.
A meio da tapada, um castanheiro.
Junto do castanheiro, uma
fonte.
Na água da fonte refrescámos o vinho. À sombra
do castanheiro comemos a merenda.
De vez em quando o Avô dizia-me:
– Vai acolá e arrebate aquelas cabras.
Eu corria de pau no ar e virava as cabras.
Em recompensa, o Avô perguntava-me:
– Queres que te conte uma história?
– Conte, Paizinho, conte.
Ouvi naquele dia histórias que dariam para vários volumes.
Cresci um palmo naquele dia.
Véspera de S. João, minha prima Carolina disse-me:
– Esta noite vou queimar a alcachofra.
– Para quê?
– Saber se me és fiel.
– Claro que te sou fiel.
– A alcachofra é que o vai
dizer.
Na manhã seguinte fui à procura
de minha prima.
Regressava ela da cortinha, envolta
num lençol,
descalça, cabelos
em desalinho e a escorrer.
– Onde foste?
– Rebolar-me no linhal.
– Para quê?
– Apanhar o orvalho de S. João. Dá beleza e elasticidade
à pele. Queres ver?
– Mostra.
Minha Prima abriu o lençol. Mas
eu não vi nada, encadeado por tanta beleza.
– E a alcachofra? – perguntei.
– Refloriu!
– E então?
– Vamo-nos casar, ter muitos filhos,
ser muito felizes...
A alcachofra enganou-nos, Carolina...
Após o São João, ceifavam-se os fenos,
vinha o S. Pedro.
As coisas que eu podia recordar hoje.
Mas perdi o meu irmão Manuel.
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