quinta-feira, 14 de junho de 2012

Coimbra, 14 de Junho de 1980

A Europa! No que deu a mais bela e prendada das eleitas de Zeus! Sem arrebatamento, sem esperança, ocupada económica, ideológica e militarmente, submetida, resignada à perdição! Mesmo os que lutam, lutam vencidos. É já só por brio que resistem. Depois de uma longa e dolorosa experiência em que as ilusões e as desilusões se sucederam, todos sabemos agora, à nossa própria custa,  que  não é impunemente que se sacrifica, aos deuses espúrios da hora, quaisquer que sejam os seus poderes de sedução ou de opressão. Um génio com brasão de três mil anos abriu mão perdulária das razões da sua legitimidade, como se lhe bastassem o usufruto do mito e os pergaminhos do seu cansaço. Delegou a voz activa. Consentiu em ser apenas o eco precioso de expressões alheias, esquecido de que não é possível manter uma identidade singular por procuração.

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