sábado, 25 de agosto de 2012

Funchal, 25 de Agosto de 1980

Funchal, 25 de Agosto de 1980 – Cá estou de novo, depois dum salto que juntou numa só duas aflições. A que sentia no Algarve e a que sinto aqui. Guardião mico da identidade nacional, padeço tormentos sempre que a vejo ameaçada. E em ambos os sítios isso acontece. Chega a meter raiva. Nos lugares cosmopolitas lá de fora, nenhuma invasão estrangeira altera o perfil nativo. Veneza é a mais italiana das terras italianas. Nas nossas estâncias turísticas, pelo contrário, o alheio sobrepõe-se de tal modo ao caseiro que o configura. É um mimetismo trágico, que nos põe a falar, a pensar e a sentir como o invasor. Sei que há uma eternidade na criatura para além de todas as circunstâncias exógenas. Os pescadores de Câmara de Lobos ou de Lagos, como tais, hão-de ter sempre a mesma têmpera de homens do mar. Mas gosto mais deles com os estigmas portugueses bem à vista. Dão-me outras garantias de irmandade.

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