quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Coimbra, 16 de Agosto de 1980

    ENCOMENDAÇÃO

Alma penada
Condenada
A vida,
Não paro de viver.
Sempre a acender
A luz interrompida,
Perturbo o sono de quem dorme ao lado.
Dia e noite acordado
E ofegante,
Lavro como um arado
Obstinado
Os pousios do tempo circunstante.

E, fora de sazão
E de razão,
Sem ouvir os gemidos
Dos sentidos,
Semeio e reverdeço a terra desolada
Da minha solidão.
Canto com emoção
Desencantada
Versos serôdios que a geada cresta.
Versos sem voz futura,
Mas que são, nesta hora de amargura,
A única certeza que me resta.

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