sábado, 14 de abril de 2012

Dia 14 [Abril de 2009]

Bo
Congratulemo-nos, o nosso cão de água já está na Casa Branca. Não sei como irão lá pronunciar o nome que lhe deram, mas espero que o façam à francesa, como se tivesse um acento circunflexo na letra o, com o que significaria belo, nem mais nem menos. A esta hora o seu retrato já deu a volta ao mundo, os grand danois e os galgos da Pomerânia mordem-se de inveja, enquanto a rafeirada portuguesa celebra o sucesso com expressões de justificado orgulho patriótico. Em todo o caso, permito-me dizer que tenho uma séria reserva a manifestar: é não conhecer de todo um cão d’água ter-lhe posto ao pescoço, para a fotografia, um colar de flores, como se ele fosse uma dançarina havaiana. Com apenas seis meses de idade, Bo ainda não tem perfeita consciência do respeito que deve ao ramo canino em que teve a sorte de nascer. Querendo a Casa Branca, podemos emprestar por algum tempo (não muito porque nos faz falta) o nosso Camões para servir de preceptor ao cachorro presidencial e ensinar-lhe as maneiras por que deverá pautar-se, em todas as circunstâncias, um digno cão d’água de ascendência portuguesa. Portugal oblige.
José Saramago, O CADERNO

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