domingo, 9 de dezembro de 2012
Tablóides…
• Creio que foi pela minha mão, em 1930, que a primeira imagem da Senhora de
Fátima deu entrada em Portugal. Ao regressar da Bélgica, e do meu primeiro
ano como bolseiro da Junta
de Educação Nacional, detive-me em Paris de visita (demorada) aos
nossos amigos expatriados (Proença, Sérgio, Cortesão e tantos
outros). Foi então que o escultor João da
Silva, destemido antifascista e livre-pensador, além de cunhado de António
Sérgio, me pediu que trouxesse para aqui um medalhão de gesso do tamanho de uma
roda de carroça com a imagem da milagrosa, que de cá lhe fora encomendada.
Aceitei gostosamente o encargo do amigo, do artista e do correligionário. Ao
chegar a Irun, os carabineiros puseram-me
o problema da entrada em Espanha
de uma obra de arte estrangeira, e exigiram-me o pagamento já não sei de que
taxas aduaneiras. Protestei, naturalmente, e eles chamaram o capitão do posto
para arbitrar o caso. Como ele tomasse o partido dos subordinados – obra de
arte, havia que esportelar! – eu argumentei no meu melhor castelhano que aquela
Benta Imagem de Senhora de Fátima
(ou não sabia ele do Milagre?) era um artigo religioso da minha fé e meu uso
pessoal, e que, todas as noites, eu não podia adormecer sem lhe ter rezado
fervorosamente e de joelhos. «Ah!», disse então o militar, «se é um objecto
pessoal de fé religiosa, então não está sujeito a imposto aduaneiro! Pode
passar!» Fez-me uma continência respeitosa, imitado pelos subordinados, e eu,
tendo correspondido, agarrei na gigantesca roda de gesso, e fui tomar lugar na
carruagem.
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