quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Tablóides…

Estes povos irmãos, ou pelo menos primos co-irmãos que somos – Galegos, Portugueses, Asturianos, Leoneses, velhos e novos Castelhanos (Cântabros), Andaluzes, Navarros, Aragoneses, Catalães, e até Bascos (os mais «puros» herdeiros da antiguidade, e únicos fiéis à língua original); todos circum-mediterrâneos, neolatinos ou Celtiberos –, conhecemos em tempos remotos, durante séculos, certa unidade na relativa liberdade e variedade, quase tendo chegado a realizar o milagre do idioma comum: primeiro, sob o Império (o «jugo»!) Romano, depois o visigótico, centrado em Toledo, e, por fim, sob o tolerante domínio maometano, em boa medida responsável da fragmentação regional. Aprendemos talvez assim a inestimável lição democratizante do que é viver de costas para, ou ignorando, o Poder Central, supostamente ilimitado, mas debilitado pelas distâncias e pela sua origem alógena. Só a Reconquista chamada «neogótica» ou «cristã», feudalizante e, portanto, divisionária, viria agravar, cultivar ou inventar os nacionalismos regionais: mas ainda aqui, quase sempre sob a «monarquia mitigada». Lembre-se que, ainda então o rei de Leão, em Toledo, era o Emperador..., grata memória dum tempo findo!
Daí, porventura, sobre ignotos alicerces ancestrais, pré-históricos, o sentimento anarquizante, enraizado, latente ou endémico, de que têm dado bastas provas as «nações» ibéricas. E não voltaremos nós algum dia a conhecer essa quase-unidade na fraternidade e na diversidade, sob a forma de federação ou confederação? Será necessário lembrar que a instituição imperial romana, a que a Igreja aspirou identificar-se, ressurgiu tentativamente com os Francos, Carlos V, o Santo Império vienense, Napoleão, Hitler (ai de nós!), e, porventura, sob a ideologia pan-soviética? Isso, embora estejamos assistindo hoje ao ressurgir das aspirações autonomistas regionais – Bretanha, Escócia, Gales, Irlanda, os Flamengos, os povos da Jugoslávia?
Tal seria, com pormenores comprovativos, o remate da série de artigos «Da Agonia dos Contrastes» que não levei ao fim devido ao escrúpulo em manifestar a esperança de que esse novo «Império libertário» viesse algum dia restituir-nos a criatividade colectiva, peninsular, que nós, Portugueses, perdemos numa solidão geo-histórica de novecentos anos. E para esse futuro poder, então parcelarmente exercido pelos próprios naturais, que os nossos corações se voltam numa prece de esperança. 

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