Dizer que as andorinhas anunciam a Primavera, é um lugar comum. Dizer que elas chegam a Barroso em Março e se vão embora em Setembro, é dos livros. O que não será comum nem dos livros, é o meu amor não correspondido por essas tipas. Tanto gostava de ver um ninho de andorinha no meu beiral e nenhuma delas me faz a vontade. Ainda queria saber que é que elas vêem na casa dos outros que não vejam na minha?
Preferem as paredes lisas e caiadas – dizem-me. Ai sim? Mas a casa onde me criei era de pedra solta e beirais de colmo e elas faziam ninho por tudo quanto era sítio. Era um vaivém constante de asas a roçar-nos as orelhas. Um chilreio ininterrupto de manhã à noite:
«Fui ao mar
E vim do mar
E o meu linho por fiar
Chilriuchiuchiu»
Eu gostava daquilo.
Ensinaram-me a considerá-las «galinhas do Senhor», mensageiras das bênçãos de Deus sobre as casas onde nidificavam. Eu acreditava e tinha por elas o respeito e a veneração devida às coisas sagradas. A tal ponto que, tendo eu sido, em garoto, um predador insaciável de ninhos, nunca toquei num de andorinha. Mas não resistia à curiosidade de os observar. Fiquei assim a saber que elas chocam duas ninhadas por ano, entre quatro a seis ovos de cada vez. Equivale isto a dizer que em Setembro regressam dez vezes mais do que chegam em Março. Daí serem recebidas com o estribilho:
«Eh, andorinhas loucas
Que fostes tantas
E vindes tão poucas...»
Cada vez menos e cada vez mais perliquitetes.
Desprezam quem as ama e apegam-se a quem as odeia.
O meu vizinho Fagundes todos os anos lhes destroe os ninhos a ponta de lareiro e elas todos os anos fazem o ninho no beiral do Fagundes.
A minha vizinha Maricotas dependura balões no telhado para as afugentar e elas habituam-se ao batuque dos balões impelidos pelo vento e continuam a fazer ninho no beiral da Maricotas.
E a mim, que tanto gostava de ver um ninho de andorinha no meu beiral, votam-me ao desprezo.
«Avezinhas do Senhor»? «Avezinhas do Senhor» uma gaita! Que as leve o diabo!
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