Baptista Bastos - b.bastos@netcabo.pt
O Partido Socialista teve,
anteontem, na Assembleia
da República, uma excelente ocasião para se redimir das evasivas políticas,
das ambiguidades e dos desvios que têm caracterizado a sua trajectória. Porém,
ao abster-se de combater a nova lei laboral, acentuou o retrato ideológico e
moral da sua triste existência. A ideia de que António José Seguro é um
"homem de Esquerda" caiu pela base. Ao claudicar perante um documento
daquela natureza, o PS desacreditou-se definitivamente.
Fica por saber,
mas adivinha-se, as manobras de bastidores encetadas entre as direcções
socialista e social-democrata, a fim de se atingir aquele vergonhoso resultado.
Aliás, a "concertação" social, tão afamada pelos trompetistas da
Direita, foi subscrita por João Proença,
figura de relevo do PS. Convém não esquecer, para memória futura.
Mas a história
do chamado "socialismo democrático" está pejada de traições (porque
de traições se trata) desta e de índole semelhante. Não é preciso ler Tony
Judt, embora seja importante frequentá-lo, para sermos informados das
claudicações dos partidos "socialistas" na Europa, que levaram ao
total descalabro. A ameaça do comunismo serviu de pretexto para as maiores
abjurações. Ao juntar-se aos partidos de Direita (caso português), o PS alterou
a fisionomia do que de ele se esperava, desde o 25 de Abril.
Claro que o
sectarismo do PCP, na altura, e a existência da União Soviética, como poder
omnipresente, também não ajudaram a convergência de esforços. Mas, como
escreveu, na altura, o jornalista alemão Kurt Dreyer, "tudo seria o mesmo,
pois os partidos socialistas procedem de ambições pequeno-burguesas."
A queda do Muro
de Berlim "não
salvou ninguém de coisa nenhuma" [Gunther Grass] e apenas forneceu ao
capitalismo outra força e outro desiderato, porventura mais cegos e desvigiados.
O resultado está à vista. No fundo, não se desejava que o PS fosse além do que
dizia. Apenas se exigia que cumprisse as razões da
"social-democracia."
Os portugueses
ainda se recordam dos gritos e dos estribilhos dos anos da brasa. "Partido
Socialista, Partido Marxista!" E o punho erguido, vertical e incisivo,
depois alterado para a rosa. "Uma rosa sem cheiro", na rotunda
expressão de Fernando Piteira Santos. Aliás, há uma história dessa época que se
conta ainda. Parece que um dia Mário Soares dirigiu-se
a Piteira Santos e inquiriu: "Porque é que você não se inscreve no Partido
Socialista?" Piteira, velho resistente, cujo sarcasmo nunca media
distâncias, respondeu-lhe; "Porque sou socialista."
Podemos confiar
no PS? Se a questão é penosa, a resposta poderá ser cruel. Há muitos anos que o
PS abandonou as regras d'oiro da Esquerda. Ao menos que, nos problemas sociais,
tivesse uma resposta e uma actuação que não fossem tão humilhantes. Nada disso.
Não votaram em Francisco
Assis, para secretário-geral, porque estava muito ligado a José Sócrates,
e, também, porque Seguro oferecia mais garantias "de Esquerda." É o
que se tem visto. Encostado, cada vez mais declaradamente, aos propósitos e
objectivos da Direita, o PS de António José Seguro queda-se numa retórica
absurda, sem direcção nem sentido, espécie de baratinha tonta com fato e
gravata.
Depois da abstenção de quarta-feira que vão Seguro e os seus dizer às pessoas? O seu comportamento, a sua ubiquidade, a sua falta de carácter e de ideologia roçam a indignidade ética. Mas será que alguma vez a tiveram? Perguntar não ofende. O que ofende a consciência dos homens livres são as constantes tranquibérnias de um partido cada vez mais ligado aos interesses e aos malabarismos do rotativismo.
Depois da abstenção de quarta-feira que vão Seguro e os seus dizer às pessoas? O seu comportamento, a sua ubiquidade, a sua falta de carácter e de ideologia roçam a indignidade ética. Mas será que alguma vez a tiveram? Perguntar não ofende. O que ofende a consciência dos homens livres são as constantes tranquibérnias de um partido cada vez mais ligado aos interesses e aos malabarismos do rotativismo.
APOSTILA - Para
governo e conceito dos meus Dilectos, e para honra da verdade, nunca fui
redactor do "Diário de Notícias", apenas seu colunista, de há cinco
anos a esta parte, e a convite expresso de João Marcelino, meu amigo.
Acrescento que me insurgi contra os saneamentos de 1975, e que fui camarada
fraterno de João Coito, grande jornalista, homem digno e honrado, fiel às suas
convicções até ao remate final dos dias. Adianto que nos protegemos um ao
outro, o que deixava os dele e os meus correligionários completamente fora de
si. Depois, quem quiser corresponder-se comigo, sem a máscara vil do anonimato,
o meu endereço electrónico está a seguir. Chega?
Sem comentários:
Enviar um comentário