quinta-feira, 22 de março de 2012

ANIVERSÁRIO DO CORREIO DO PLANALTO

Na opinião generalizada de quantos lá estiveram, o Almoço Comemorativo do 30.º Aniversário do Correio do Planalto foi uma festa inolvidável.
Anunciado a medo, quase à última hora, acorreram Amigos de Lisboa, Porto, Barcelos, Braga, Guimarães, Chaves, Vigo e outras terras, entre elas Montalegre, donde, afora os meus familiares, compareceu o número fantástico e inacreditável de perto duma dúzia de presenças. Que ninguém diga que, para gáudio e consolação de quem há trinta anos o mantém na brecha, Correio do Planalto não é lido e amado em Montalegre e seus arredores. A alegria é tanta que até dá vontade de chorar. À vista do elevado número de assinantes que por aí recebe o jornal e o não paga, cheguei a sonhar que muitos deles aproveitassem a oportunidade para se redimirem. Assim não aconteceu, paciência. Sempre fui um sonhador acordado e desiludido. E, nesta época da vida, mais desilusão menos desilusão, nada tira ou acrescenta ao resultado final. E o resultado final, tanto o meu como o do Correio do Planalto, está à vista: morte a curto prazo e esquecimento eterno. Acho que para remate de tanta choradeira, só esta citação de Dante: «Lasciata ogni speranza voi ch’entrate». («Perdei toda a esperança, vós que entrais» – inscrição colocada pelo poeta à porta do Inferno). E basta de lamúrias. Como dizia o meu defunto vizinho Ladrugães: «Sessim cordas!»[1] Corações ao Alto! Ao arrepio da de Montalegre, a representação do Porto, à volta de setenta pessoas, encheu-me de alegria e de orgulho. Que ninguém diga que sou mau vizinho ou que não tenho amigos na terra onde resido. O meu profundo reconhecimento aos meus Amigos do Porto. Coloco-os aqui em primeiro lugar, por terem sido os mais numerosos. Mas o sentimento de profunda gratidão que lhes testemunho vai inteirinho para todos os outros que vieram das outras terras supracitadas, Montalegre incluída, naturalmente.
Outro motivo de alegria e de orgulho foi eu ter conseguido reunir em Padornelos nomes altamente colocados e representativos da política, da justiça, da magistratura, da advocacia, da medicina, da economia, do comércio, da indústria, do ensino, das artes e das letras. Não distingo ninguém em particular, porque, na minha amizade e no meu coração, todos os que no pretérito dia 12 de Dezembro estiveram em Padornelos, me são igualmente queridos.
Resta-me agradecer aos anfitriões, Ricardo Moura e esposa, D. Aldina, o esplêndido serviço que nos apresentaram e a inexcedível simpatia com que nos serviram.
E para fazer água na boca aos que lá não foram, vou resumir o que lá se passou:
Pelas dez horas mataram-se quatro porcos taludos, dois dos quais bichos de respeito, coisa de passar a perna aos descritos por Homero na Odisseia ou por Petrónio no Satyricon.
Enquanto se procedia à queima, lavagem e abertura dos cevados ao ar livre, dentro do Hipódromo, ao calor duma enorme fogueira de cepos de carvalho, começaram a ser servidos os aperitivos: presunto, salpicão, alheiras a saltar da brasa, sangue, entre nós mais conhecido por sarrabulho, tudo regado por um delicioso vinho tinto da região do Douro, ou, na alternativa, por sápido alvarinho da região de Melgaço.
Pela uma da tarde apareceu o cozido, duma abundância e primor de confecção que arrancou aplausos a todos os comensais que o atacaram quantas vezes quiseram e a barriguinha lho consentiu.
Para ajudar ao quilo do toucinho, da orelheira e do chispe, uma sopa de couves, dessas couves de Barroso que, por esta época do ano, sabem a manjar de anjos.
E foi a vez de entrarem os postres em acção: filhós de sangue; doces caseiros duma variedade e requinte de paladar que fizeram as delícias de todos, dum modo especial das senhoras e das crianças; fruta variada e abundante; café, Aguardente Velha de Singeverga e whisky de vinte anos ad libitum.
Et super omnia, uma alegre e salutar camaradagem entre cento e muitos convivas à volta duma fogueira, sempre de copo na mão e riso nos lábios, tarde fora, noite dentro.
Tudo isto por 25 euros. Mas não foram todos para o Ricardo. Ainda sobrou algum para o jornal. Não tanto como eu contava, mas não me arrependo de ter organizado este Almoço-Convívio. Basta dizer que já recebi propostas para o repetir no próximo ano. Estou a ponderar seriamente o assunto.
Bento da Cruz, PROLEGÓMENOS II – Crónicas de Barroso (p. 37 e ss.)


[1] Corruptela faceta da invocação latina: sursum corda!

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