quarta-feira, 1 de junho de 2011

Cadernos de Lanzarote (Diário de 1993)

1 de Junho
Mesa-redonda na Feira, com Inês Pedrosa, Mário Cláudio e José Manuel Mendes. Um tema assaz extravagante, mas que acabou por levar a um debate animado: «Devem os escritores ser boas pessoas?» Que sim, que não, que talvez, que não é com bons sentimentos que se faz boa literatura, que os sentimentos maus, por seu lado, não parecem ser condição suficiente. Mas era visível uma inclinação geral para desdenhar da bondade, como atributo bastante fora de uso, tropeço na vida prática, obstáculo ao triunfo pessoal e colectivo e, sobretudo, debilidade indigna de um homem (ou mulher) que se preze de moderno. Foi então que resolvi meter um grãozinho de areia na desenvolta e lubrificada engrenagem do consenso, sugerindo que, existindo e actuando de facto, a bondade seria talvez, neste mundo, a mais inquietante de todas as coisas... Deu-me prazer verificar que o público ficou inquieto. Suponho que os meus colegas também, embora não tivessem achado necessário reconhecê-lo.

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