domingo, 6 de outubro de 2013

Portalegre, 6 de Outubro de 1976

Há terras onde vão a carácter determinadas expressões. Certa ostentação, certa grandiloquência, certa retórica. Esta cidade de Portalegre, desde o nome, ao mausoléu monumental com que em vida um bispo nela se preveniu, à toada barroca em que um poeta a cantou, parece enfunada por não sei que vento hiperbólico. Mas a gente deixa-se arrastar por esse descomedimento. Gosta dos palácios majestosos, dos brazões flamejantes, dos mármores coloridos, dos ferros forjados. Gosta de testemunhar uma candura provinciana que se desconhece, presunçosamente escarolada ao parapeito da paisagem larga, a ver passar o tempo convencida de que tem um salvo conduto para a eternidade.
Miguel Torga

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