sexta-feira, 25 de novembro de 2011

DIÁRIO (XIII)

Pampilhosa da Serra, 25 de Novembro de 1979 – Ao cabo de muitos e afanosos anos a percorrer Portugal – as suas mais recônditas aldeias visitadas, as suas mais secretas intimidades surpreendidas –, chego a esta triste conclusão: de tudo o que fomos, restam-nos apenas a paisagem e a língua. O resto foi-se. As rodas e as asas do progresso, a rádio, o cinema, a televisão, a onda de retornados e o fluxo e refluxo de emigrantes subverteram e desfiguraram irremediavelmente a nossa realidade social e cultural. Usos e costumes pervertidos, arquitectura adulterada, memória perdida dos valores ancestrais. Terras que conheci arcaicas há uma dúzia de anos, estão hoje irreconhecíveis. E quem queira encontrar ainda em qualquer parte testemunhos da nossa identidade tem de olhar os panoramas e de ouvir falar. O chão e o verbo. Só neles persiste a pátria primordial como latência e vestígio. 

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