O Pastor de Bensafrim - Zeca Afonso
Ó ventos do monte
Ó brisas do mar
A história que vou contar
Dum pastor Florival
Meu irmão de Bensafrim
Natural rezava assim
Passava ele os dias
No seu labutar
E os anos do seu folgar
Serras vai serras vem
Seu cantar não tinha fim
O pastor cantava assim
Ó montes erguidos
Ó prados do mar em flor
Ó bosques antigos
Trajados de negra cor
Voa andorinha
Voa minha irmã
Não te vás embora
Vem volta amanhã
Dizei amigos
Dizei só a mim
Todos só de um lado
Quem vos fez assim
Dizei-me mil prados
Campinas dizei
A história que não contei
Serras vai serras vem
O seu mal não tinha fim
O pastor cantava assim
Ó montes erguidos
Ó prados do mar em flor
Ó bosques antigos
Trajados de negra cor
Voa andorinha
Voa minha irmã
Não te vás embora
Vem volta amanhã
Dizei amigos
Dizei só a mim
Todos só dum lado
Quem vos fez assim
Seu bem que ele vira
Num rio a banhar
Ao vê-lo vir espreitar
Nunca mais apareceu
Ao pastor de Bensafrim
Sua dor chorava assim
Ó montes erguidos
Ó prados do mar em flor
Ó bosques antigos
Trajados de negra cor
Voa andorinha
Voa minha irmã
Não te vás embora
Vem volta amanha
Dizei amigos
Dizei só a mim
Todos só dum lado
Quem vos fez assim
Ouvi uma criança cantando:
"Num dia corri o mundo
Aqui cheguei à tardinha..."
Estes dois versos motivaram a síntese que fez nascer Bensafrim e o seu pastor. Levei tempo a concluir o texto para a melodia que já estava feita. O povoado existe, com efeito, lá para os lados de Aljezur mas o pastor é um subproduto bucólico roubado aos zagais das éclogas de Bernardim e Cristóvão Falcão. Um pouco levianamente fui levado pelo jogo das rimas à reconstituição do velho drama pastoril cujo nome, "Bensafrim", os montes e as ervinhas repetem até aos mais humildes recantos da Serra Algarvia.
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