terça-feira, 1 de março de 2011

“Tablóides” – 30 de Novembro de 1973

• Ainda se compreendia que falassem de censura «intelectual» quando se tratava de controlar ou suprimir a inteligência, o génio, o talento, a cultura. Mas quando vemos proliferar à sombra dela os asnos, que devemos chamar-lhe: Censura asinina?, ou asinal?
• Vendo que o preço dos géneros subira alguns centavos desde a semana anterior, um homem que estava na bicha bradou indignado: «Ladrões! Um dia destes vai tudo pelos ares à bomba!» E outro, que esperava atrás dele, comentou: «Pois, pois! E daí a um mês os preços terão triplicado!)
• Além do que leram em jornais e livros, que sabem eles de o ter testemunhado, de ter participado, ou realizado? Correram riscos? Deixaram-se levar nas marés do entusiasmo? Acreditaram com fervor em algum herói ou líder? Ouviram no escuro das noites o fragor das explosões, silvar as balas? Viram escorrer o sangue dos ferimentos e das mutilações que a vida causa, em tumultos e acidentes? Embriagaram-se de exaltação ou desespero – ou mesmo de álcool? Correram alguma vez os becos, as tascas e os bordéis da experiência e da privação? Dançaram os tangos da expectativa para esquecer os vácuos da realidade e da solidão? – Que depoimento têm eles a prestar no tribunal da história ou mesmo só da literatura? O dos livros que leram? Ou dos romances que escreveram?
J. R. Miguéis

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